sábado, 28 de março de 2015

POR QUE NOSSOS OLHOS ESTÃO VOLTADOS PARA O PREFEITO, GOVERNADOR E PRESIDENTE DA REPÚBLICA NA MAIOR PARTE DE NOSSAS CRÍTICAS? ONDE ESTÁ NOSSA DEMOCRACIA?

Propomos analisar fenomenologicamente nossa história, para que possamos nos compreender como seres e identificar-nos como possibilidades transformadoras. Como um detetive histórico fazemos uma investigação radical. Desde quando escrevemos sobre centro versus periferia, mostramos nosso proceder originário. Comprovamos que até hoje isto impregnou nossa conduta e essência, ao ponto de ficarmos à mercê do mercado internacional, levando-nos a uma imobilidade sócio-econômica, afetando e cristalizando o nosso processo desenvolvimentista. No entanto, é mister, neste tópico, recuarmos um pouco mais na história e desvendarmos o feto do Estado Centralizador e Forte, pois esta seria a necessidade essencial para que se fundasse a expansão comercial. As coisas começam quando os francos atacam aos árabes que passam a ser periféricos dentro da Península Ibérica, embora fizessem parte da cultura mais avançada do planeta, na época. Os francos atacam sob o protótipo de cruzadas. Dois nobres franceses, Raimundo e Henrique de Borgonha, ganham de Afonso VI, de Leão, por casamento com suas filhas, os condados de Galiza ao norte do Minho e o de Portucalense, ao sul do mesmo rio, respectivamente. Por enquanto estas terras estavam a dispor da suseranagem de D.Afonso VI, porém a partir de sua morte e a de D.Henrique, sua esposa D.Teresa não aceita se submeter ao Rei D.Afonso VII, até que seu filho D.Afonso Henriques, funda em 1139, a dinastia de Borgonha, sob o nome de D.Afonso I, com apoio total da Igreja Católica, que dominava 2/3 da Europa, nesta época. Agora como estado independente do Reino de Leão, Portugal começa a se fortalecer para expulsar a forma de governo árabe de suas terras (retorno a dizer que era a cultura mais evoluída do planeta, neste momento); conquistar o Algarves, onde o chefe militar se confunde na pessoa do Rei de Portugal, cada vez mais forte e centralizador, tendo em vista a necessidade daquele momento, chamado de guerra de reconquista (?). Este neo-feudalismo português possui diferenças do antigo feudalismo, tendo em vista que o Rei tornava-se proprietário das terras conquistadas e os nobres não possuem delegações sobre as instituições municipais. Toda a justiça é exercida pelo soberano e ordens militares como a Ordem de Cristo (a que promoveu as grandes descobertas marítimas) está subordinada ao Rei. A arrecadação de impostos é nacional e real e muitos servos são beneficiados com a liberdade visando o povoamento de terras conquistadas. Neste momento do século XIV, Portugal é uma monarquia agrária totalmente controlado pelo Rei, desde a questão de impostos, do trabalho na terra, da produção de cereais, do funcionamento de celeiros, etc. Em seguida o Rei começa a controlar as atividades pesqueiras, que já eram anteriores à Dinastia de Borgonha, promovendo a construção de caravelas, para evoluir a pesca além da sardinha, em busca do atum e da baleia, isentando certas zonas de alguns impostos, possibilitando assim uma grande movimentação comercial. Inicia com esta dominação, um momento de grandes lucros comerciais nas mãos do Rei, controlando o mercado interno e externo. Sabemos que no tecido comercial as relações se efetuam em teias, e assim no Reino Português acontece uma grande evolução urbana, com aparecimento de cidades, enquanto que o meio rural busca as regiões litorâneas para participar deste grande evento comercial. No resto da Europa, o feudalismo já vinha se encaminhando para uma grande crise, originada da abertura das rotas comerciais dentro da Europa, possibilitando aos servos, condições melhores de vida nos novos entrocamentos das estradas comerciais, como artesãos e homens livres, participando de um novo ciclo econômico que é o surgimento da burguesia, a caminho do estado burguês. Porém, a Peste Negra e a Guerra dos Cem Anos criam um obstáculo imenso a este movimento, causando uma grande crise de consumo e mão de obra que se valoriza devido à diminuição populacional, advindo tensões e revoltas. No entanto, todo este estado de crise europeu vem beneficiar Portugal e fortalecer a centralização do Poder Real. Devido ao movimento comercial de pesca, nasce em Portugal uma poderosa Burguesia Mercantil, que se estende ao comércio do sal, do azeite e do vinho, assim como da agricultura em geral. Portugal também se beneficia com a influência da cultura árabe e da presença judaica com sua antiga e sábia civilização. Como a crise no interior da Europa, traz insegurança para as rotas terrestres europeias, muda por completo o quadro comercial que ligava as cidades italianas ao Flandres. Neste momento reacendem as rotas marítimas através da costa portuguesa, alcançando as regiões espanholas, holandesas e inglesas pela Mar do Norte. No final do século XIV, Portugal lidera um grupo mercantil comercial no atlântico, o que fortalece mais ainda o Poder Real. Este Poder Real vem sido exercido durante séculos e chega até aos nossos dias em terras brasileiras com várias matizes culturais. Peço ao leitor que reflita este texto e comece a pensar e a entender, porque a grande maioria da população brasileira está com seus olhos voltados para o Prefeito ("tá vendo este bueiro aqui na rua, o prefeito não conserta ele nunca!"), no Governador ("olha ali o posto de saúde que o governador não consertou o muro ainda!), no Presidente da República ("moro nesta casa porque o presidente até hoje não me deu condições de melhorar minha vida!"). Estas expressões, mescladas a milhares de outras de nosso cotidiano, tem seus fundamentos na psicogênese de nossa formação cultural. Atenção, que não estou descartando uma sociedade justa e perfeita, nem justificando nosso estado permanente de miséria social. Nem tão pouco que devemos buscar soluções para os nossos problemas cotidianos em geral, mas que estamos longe de construir uma verdadeira democracia social. E que também não podemos cruzar nossos braços e justificarmos como culturais aquilo que podemos mudar e erguer democraticamente.

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