segunda-feira, 30 de março de 2015

SÓ SEI QUE NADA SEI - DE SÓCRATES A LULA

Só sei que nada sei frase socrática aparentemente se aproxima de “eu não sei de nada”, frase lulática, quando analisadas sem muito rigor ou pouca reflexão. De um lado, o grande filósofo Sócrates era um homem simples, homem do povo, andava entre o povo sem nenhuma ligação com a aristocracia ateniense. Do povo também sempre foi Lula e não há como duvidar disto. Ambos saíram dos berços populares mais simples para galgar uma posição aristocrática na história, o que não cabe aqui comparar um com outro em pé de igualdade, mas apenas como chispas que saltam do seio do povo, mas não desaparecem em seu estilhaço instantâneo. Partindo do princípio de que nada sabia, Sócrates proclamou em plena praça ateniense: “Só sei que nada sei!”. Desta forma ele genialmente marca uma grande diferença entre todos que pensavam saber de tudo ou quase tudo e que no fundo de nada sabiam e nem tinham consciência disto. Diante do escândalo do mensalão o Presidente Lula exclama: “Eu não sei de nada!” Ambos, tanto o filósofo ateniense com o presidente brasileiro apesar da frase negando um saber, cada um a seu modo dentro do seu contexto realmente sabiam de alguma coisa. Vamos ver. Sócrates era um gênio e observando como vivia em falsidade a sociedade ateniense percebeu com claridade que era uma sociedade fora da verdade. Este saber de nada saber era uma busca permanente da verdade. Não foi em vão que Sócrates ensinava o “Conhece-te a ti mesmo”, caminho da busca do autoconhecimento, frase que estava escrita no Templo de Apolo. Lula aprendeu política no meio de sindicatos. Ali não é possível crescer pessoalmente, sem ouvir, sem respeitar ao outro, sem amar aos seus companheiros, sem saber cultivar o silêncio, sem ser solidário e assim conhecendo-se e reconhecendo-se como líder sindical galgou fama e prestígio popular, o que não podemos duvidar. Sócrates era aberto diariamente ao diálogo, arte que dominava com uma maestria jamais vista. Nesta prática ele usava da ironia e da maiêutica. No início de seus diálogos Sócrates demonstrava não conhecer o assunto apresentado e no decorrer dos diálogos ia demonstrando que o interlocutor também não entendia nada sobre o mesmo. Isto levava o interlocutor a se esforçar o máximo para aperfeiçoar uma resposta à altura do tema apresentado. Desta forma ele se tornava menos arrogante e se conduzia a uma resposta mais nítida e clara. Esta fase se chamava ironia. Na segunda fase, ele ajudava ao interlocutor elaborar suas próprias ideias acerca da dúvida apresentada. Esta fase final se chamava maiêutica. Era o que ele chamava de trazer a ideia à luz, dar nascimento à verdade real sobre o tema ou indagação apresentada. A frase “eu não sei de nada” de Lula também esconde em seu íntimo de que ele sabia sim de alguma coisa. Não que ele soubesse de tudo realmente o que estava passando, tim tim por tim tim como se dizia no interior. Mas que ele sabia como eram os subterrâneos da política brasileira. Ele sabia que projetos são aprovados através de propinas desde o tempo da onça e que muitas eleições são garantidas com verbas de campanhas oriundas muitas vezes do mundão da corrupção. Ele sabia que não seria oportuna uma segunda pergunta “Quem são as pessoas que estão recebendo este mensalão”. A sua posição embora de crucificado não significava a de Cristo, quando proclama “Quem não tiver pecados que atire a primeira pedra!” Ele sabia que estava ali da mesma forma que FHC, Itamar, Collor, Sarney e assim até o alvorecer de nossa República. Esta curta frase de Lula encerra simultaneamente dentro de si mesma uma ironia e uma maiêutica. Em outras palavras, eu não sei de nada diante do muito que está acontecendo nos bastidores, mas sei que muita coisa está acontecendo porque sempre aconteceu assim; mas se o Presidente não sabe de nada o que se deve fazer diante da corrupção que é a única que sabe de tudo e sempre escorregou por entre os dedos das mãos de um sistema que manipula desta forma os poderes? O silêncio e o tempo são os maiores e melhores remédios. O silêncio para Sócrates seria andar pelas ruas de Atenas conversando com todos sobre tudo em sua arte dialógica. Seu tempo era aquele percorrido entre a ironia e a maiêutica. O silêncio e o tempo para Lula seria e foi algo tão doloroso e catastrófico, do qual ele tem carregado até hoje as suas mazelas, pois o silêncio e o tempo tentaram ser imediatos, coisa impossível de ser na política, tentaram ser ironia e maiêutica no mesmo instante. Condenado à morte Sócrates bebeu docilmente a cicuta ordenada pela aristocracia ateniense. A condenação de Lula crucificado como operário no poder foi ter bebido o veneno antigo de uma taça colonial construída com esmero à medida que foi sendo edificada a tradicional elite brasileira.

2 comentários:

  1. Para melhor comparação entre Sócrates e Lula, seria ótimo que o LULA também tomasse CICUTA COM BRHMA

    ResponderExcluir
  2. Para melhor comparação entre Sócrates e Lula, seria ótimo que o LULA também tomasse CICUTA COM BRHMA

    ResponderExcluir